A pergunta “o Governo está certo em oferecer terapias alternativas no SUS?” norteou o debate realizado no Programa Entre Aspas com Mônica Waldvogel, exibido ao vivo na noite de terça-feira (13), pela Globonews. Durante quase 30 minutos, o 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Ribeiro, apresentou argumentos, números e casos que confrontam o anúncio feito nesta semana pelo Ministério da Saúde.
Além da falta de comprovação científica (que torna a prescrição e o uso da maioria desses procedimentos proibidos aos médicos), o representante do CFM enfatizou no debate com o consultor técnico do Departamento de Atenção Básica do Ministério, Daniel Miele, que a decisão de incorporar essas práticas na rede pública ignora também prioridades na alocação de recursos no Sistema Único de Saúde.
Para Ribeiro, o governo está errando no foco da prevenção. “Temos muitas outras prioridades no Brasil, como a febre amarela, que está matando pessoas por todo o País; o sarampo, a tuberculose e a sífilis, que estão voltando; e ainda temos uma epidemia do trauma que merece atenção da medicina preventiva”, apontou. Durante o programa, ele chamou a atenção ainda para o risco de se fazer com que a população acredite “que essas práticas podem suplantar a medicina tradicional”.
No debate, o 1º vice-presidente também apresentou dados oficiais que confirmam o subfinanciamento do setor. “Nos últimos 15 anos, o Ministério da Saúde deixou de aplicar quase R$ 180 bilhões de seu orçamento e, desse dinheiro, aproximadamente R$ 80 bilhões eram de investimentos. É contra isso que o CFM se opõe. Nós temos que pegar o pouco dinheiro que existe na Saúde e fazer algumas opções, porque o ‘cobertor’ é curto”, disse.
Ao ser questionado sobre a quantidade de recursos aplicados especificamente na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, o representante do Ministério não soube apontar valores ou metodologia de avaliação dos impactos econômicos. Sobre este aspecto, Mauro Ribeiro ponderou que a carência de recursos no SUS é tão grande, “que não importa a quantidade destinada para esse Programa: vai fazer falta para a medicina convencional”.