Entrevista com Dr. Agamenon Honorio
Ouça a entrevista em Áudio (dividido em 3 partes)
Entrevista com Dr. Agamenon Honorio
1-Porque o Senhor resolveu ser acupunturista? Quando foi? E como era a formação do acupunturista?
Terminei minha faculdade em 1980 e fui fazer residência em psiquiatria, eu pensava que a medicina passava por esse aspecto mais da mente, aspecto mais das emoções, e via na medicina um certo afastamento, pelo menos meu em relação a essa dicotomia mente/corpo, como é que a gente pode separar a mente do corpo? É como separar a alma.
Aí eu fui fazer psiquiatria e vi que, na psiquiatria, também havia essa separação, quando eu fiz residência fiquei pensando: será que eu vou continuar a ser médico mesmo? Porque como é que eu podia separar os pacientes, separar mente do corpo? Mas eu concluí a residência médica, tive bons preceptores que me abriram os olhos, para o que eu pensava, para a minha maneira de encarar e ver essa condição do ser humano.
Foi quando surgiu na minha vida a homeopatia, a homeopatia foi a primeira especialidade depois da residência, eu fiz no Instituto Hahnemanniano do Rio de Janeiro, feito em Fortaleza, os professores vinham de lá, eu fiz em 82/ 83. Então, a homeopatia abriu muito caminho na minha vida, porque foi lá que eu comecei a ver a patogenesia que era falada pelo Samuel Hahnemann, um grande estudioso, para mim um gênio
Mas aí eu vi que na homeopatia existia alguma coisa chamada energia vital. Lendo alguns livros da época, li numa revista, a revista Planeta, que na China se fazia acupuntura, agulhas na cabeça, crânio-acupuntura, e que tratava dores, tratava sequelas de AVC. Nossa, aquilo me fascinou!
Eu pensei: eu vou fazer acupuntura e vou fazer crânio-acupuntura que era uma medicina clean, era limpa, era só por sua cabeça. E eu vendo o mapa do homúnculo de penfield na época já publicado na Planeta, eu fiquei pensando: eu quero fazer acupuntura. E é aquela história: a gente quer, faz.
2-Participou da fundação da SMBA? Como tudo começou?
Em 1989 eu fui à São Paulo, e no Nikkey Palace Hotel eu fui ao primeiro congresso da AMPA, Associação Paulista de Acupuntura. Fiz esse congresso, no qual o presidente era o Dr. Ysao Yamamura, assisti às aulas dele e copiei tudo.
Então marquei para fazer um curso de formação com ele em 90, em São Paulo. E quando já estava tudo pronto para eu ir para São Paulo, foi quando um colega médico aqui do Ceará, Emílio Furlani me falou: vai haver um curso em Recife, me inscrevi e comecei o curso, 90 e 91 fiz o curso de acupuntura, o primeiro curso de acupuntura do Nordeste.
A minha formação em acupuntura, posso dizer que na formação básica eu tive aula com todos os professores deste país, de nome, porque Dr. Dirceu, como era o primeiro curso, ele chamou esses colegas mais experientes para fazer essa formação.
E aí a gente começou a fazer formação aqui em Fortaleza também, então no Ceará foi o segundo, e terceiro foi na Bahia, quando a gente começou a divulgar pelo nordeste. Nesta época a gente fez prova de título, e a prova de título na verdade uns fazendo para os outros, porque não tinha prova de título: eu fiz prova para o Dr. Dirceu, Dr. Dirceu fez para mim, eu fiz para o Norton, o Norton fez para mim.
Então, nessa época organizamos a acupuntura nesse país, do ponto de vista educacional, ou seja, do ensino e para organizar sociedades médicas de acupuntura e também para formação de cursos
3-Os cursos de formação de médicos em acupuntura quando deu início? E como foram as primeiras aulas?
Eu me lembro de uma história, que essa história é pitoresca: Dr. Dirceu ligou para mim, sabe Agamenon… o que aconteceu? Meu filho Igor foi fazer aqueles testes de desenho, um inventário de Minesotta, uma coisa assim da psicologia, e a professora pediu para desenhar a família; aí ele desenhou e a professora perguntou: quem é esse aqui? Esse aqui é mamãe. Quem é esse aqui? Essa aqui é minha irmã, esse aqui sou eu. E esse avião? Esse é o papai, que está dentro dele.
Aí ele disse assim: O filho via o Dr. Dirceu no avião e o Dirceu disse, vamos dividir cada vez mais. Tá bom, Dirceu, a gente faz isso. Bom, e fizemos isso, e formamos muita gente nesse sentido, eu tenho assim, essa experiência, e essa gratidão até com essas pessoas, eu me alegro de ter participado disso tudo, de formação dessas pessoas. Foi quando começaram a surgir outras lideranças no país inteiro, aí mesmo em Salvador, você sabe disso, você é uma liderança; em Minas com o Hidelbrando, meu grande amigo, que Dr. Dirceu dizia: fale com o Hidelbrando para ele fazer um curso em Minas, um grande nome da acupuntura, como todos que surgiram no país inteiro, tais como, Levi, em Natal, Moira na Paraíba, Osvaldo em Teresina, deixe-me ver mais, a Sonia, Sonia Chaves em Belém, o Salama em Manaus, a Cristina em Mato Grosso, o Celso em Mato Grosso do Sul, Máximo Ordinélio, o Márcio Dias, Orlando, Ricardo Antunes, Durval do Rio de Janeiro são pessoas que contribuem cada vez mais e contribuíram muito.
Dr. Ysao é um baluarte da acupuntura, hoje nós temos o André Tsai, Dr. Fernando Genschow, a contribuição muito grande que ele deu para a acupuntura, e na parte jurídica, como presidente, eu cheguei a ser até presidente também da acupuntura. Mas antes disso, Dr. Dirceu liga para mim e diz: Agamenon, quero convidar você para ser diretor de ensino, e fui durante muito tempo diretor de ensino, organizei congressos nesse país inteiro
4-Na sua opinião, qual a importância do TEAC e novos médicos titulados para fortalecer a especialidade?
Dando continuidade, a formação médica e o título de especialista sem dúvida fortalece qualquer especialidade. Você vê que qualquer especialidade que tenha titulados, ela é mais forte.
Então o TEAC que veio e surgiu na nossa especialidade, como um alicerce, uma solidez para que a especialidade possa se manter, e que por exemplo, quando um paciente procura um médico, ele muitas vezes quer saber: esse médico tem título de especialista? Esse médico tem uma formação?
Ele tem uma residência? Seja qual for a formação que tenha, uma pós é muito importante, então o TEAC é uma maneira, é uma titulação para o médico em qualquer especialidade que fortalece a especialidade, fortalece o nosso nome.
O TEAC vem cada vez mais se consolidando na nossa especialidade a partir da formação dos nossos cursos de acupuntura.
5-O Senhor levou vários grupos de médicos Brasileiros para estudar acupuntura na China, conte-nos como foi essa experiência
Em 1995, nós fizemos a primeira viagem à China, eu fiz cinco viagens à China: a primeira foi há 26 anos. Nós encontramos em São Paulo, a turma toda, Cabrera, Raul de Recife, Dirceu, Silvio, Fernando Genschow, eu, Tarso Virmond, Gleidstone, de mulheres também, Zildanai, éramos 21 pessoas, pegamos um avião da VASP aí descemos em Los Angeles no outro dia, mais onze horas e pouco descemos em Tóquio; em Tóquio passamos mais três horas, pegamos outro avião, fomos para Pequim, foram 28,5 horas de voo.
Quando chegamos lá, quem nos recebe? Ahmed, Prof. Ahmed Youssef El Tassa que era o nosso representante brasileiro na China, estava fazendo mestrado na China. Então foi uma viagem de 30 dias, foi uma viagem tão interessante, porque a gente passou fome, mas aquela fome, não era de não ter o que comer, de a gente não ter o que queria comer.
Ficamos num bairro meio afastado de Pequim, porque muito carro, muita poluição, e era muito trânsito para a gente ir para a universidade, ficamos no Instituto Sino-Japonês, exatamente, que dava aulas de acupuntura para o ocidente. Quando foi em 98, eu já tive a ideia de ir à China novamente, aí levei 25 pessoas do Nordeste, nós fomos pela Coréia do Sul, fui pela Varig, muito semelhante à viagem, ficamos na Coréia do Sul durante dois dias, e aí já fiz no mesmo instituto, Ahmed nos deu tudo, todo o apoio, e já fizemos algumas viagens, já fizemos alguns passeios mais longe.
Em 2005, eu fiz a terceira viagem, dessa vez eu fui para uma cidade chamada Han Chou, já não fui mais para Pequim, a não ser para passear, e fomos para a Universidade Zhei Ghi Yang, passamos um mês.
Primeiramente passamos pela França, ficamos em Paris durante 3 dias, e depois para Han Chou, passamos em Pequim antes, 3 dias, e depois a Han Chou. Han Chou é uma cidade próxima a Xangai, no sul, que tem 8 milhões de habitantes, uma cidade linda, uma das mais belas cidades, onde tem o West Lake, que é o Lago Oeste, que é um lago belíssimo.
Depois disso fizemos mais duas viagens para essa mesma cidade, Han Chou, levei 30 pessoas de outra vez, depois levei mais 28 pessoas, a última viagem foi em 2012, na mesma universidade.
Criei um certo know-how, porque quando se fala em viagem para a China, lembram de quem? De Agamenon, as pessoas estão até cobrando outra viagem, talvez, se tiver, tem mais uma.
6- O que o Senhor espera da acupuntura no Brasil nos próximos 10 anos?
E só para completar, no ano de 2005, eu lembro que Dr. Dirceu ligou para mim, no dia do meu aniversário, e disse: Agamenon, eu quero convidar você para ser o presidente da Sociedade, na verdade antigamente era Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura, SMBA, quero convidar você.
Eu tomei um susto e falei: Dirceu, eu tenho essa competência para isso? Mas nós estamos aqui para lhe ajudar. Bem, então fui presidente de 2005 a 2007, foi a última gestão do SMBA sob a minha presidência, que culminou com o congresso feito em Fortaleza no ano de 2007, Congresso Nacional, e daí foi formado o Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, o CMBA, onde juntamos, na verdade a AMB determinou isso, as duas sociedades que existiam, a AMBA, que é a Associação Médica Brasileira de Acupuntura e a SMBA, formando o CMBA, que hoje somos nós, estamos aqui.